Comunidade indígena reage à Justiça: “Querem calar nossa voz”

Centenas de indígenas de diversas etnias realizaram uma manifestação nesta sexta-feira (4) em frente ao Fórum de Brasnorte, em Mato Grosso, em apoio ao prefeito Edelo Ferrari (União Brasil), cassado recentemente pela Justiça Eleitoral. O protesto pacífico teve como objetivo denunciar o que consideram uma decisão injusta e exigir respeito à autonomia política dos povos originários.

Portando cartazes com frases como “também temos direito de votar” e “juiz não gosta de índio”, os manifestantes repudiaram a sentença do juiz Romeu da Cunha Gomes, que reconheceu não haver provas da participação direta de Edelo na suposta compra de votos, mas ainda assim acatou o pedido de cassação do Ministério Público Eleitoral.

“Não vendemos votos. Votamos porque ele trabalhou por nós. Isso é desrespeito com nossa escolha”, disse Elizete Ukba, cacique da Aldeia Primavera, da etnia Rikbatsa. A indignação foi compartilhada por Tetarikwa, do povo Enawenê, que denunciou a falta de escuta por parte das autoridades: “Não nos ouviram, não tivemos o direito de falar”.

Segundo os indígenas, a cassação do mandato ignora o protagonismo das comunidades tradicionais no processo democrático. “Isso é perseguição. Edelo nunca comprou voto indígena. Ele tem nosso apoio porque nos ajudou com dignidade”, declarou Marikau, da etnia Miky. Já Kawali, dos Enawenê-Nawê, afirmou que o Ministério Público e o Judiciário falharam ao não ouvir devidamente os representantes das aldeias. “Decidiram por nós, sem nos consultar. Isso não é justiça”, completou.

Durante a manifestação, também foi relatado que uma promotora de Justiça teria rido com desdém durante os depoimentos de lideranças indígenas em audiência, atitude interpretada como desprezo pelas comunidades.

Edelo Ferrari esteve presente no protesto e agradeceu o apoio. “Estamos lutando juntos por respeito e justiça. Confio que a verdade prevalecerá. Nosso compromisso é com o povo de Brasnorte”, afirmou o prefeito, que continua no cargo enquanto recorre da decisão junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT).