Uma aldeia que virou destino. Um povo que transformou resistência em acolhimento. E um líder que viu no turismo não uma ameaça, mas uma ferramenta de preservação e desenvolvimento. Assim se apresenta a Aldeia Wazare, localizada em Campo Novo do Parecis, hoje referência no etnoturismo de Mato Grosso e símbolo da força cultural do povo Haliti-Paresí.
Liderada pelo influente cacique Rony Azoinace, a comunidade foi pioneira em conquistar, em 2021, a Carta de Anuência da Funai, documento que reconhece e autoriza formalmente a realização de atividades turísticas em território indígena. “Antes de 2010, falar em turismo em terra indígena era crime. Mas sabíamos do nosso potencial, da nossa história, do que tínhamos a oferecer. Hoje, mostramos o Brasil indígena real, com nossa cultura viva e nossa organização”, destaca o cacique, que também atua como articulador político nacional.
A partir dessa autorização, a Aldeia Wazare estruturou um modelo de etnoturismo que respeita os princípios da sustentabilidade e do protagonismo indígena. A proposta é mais do que recepção de turistas: é uma imersão real na cultura Haliti-Paresí, com experiências autênticas que incluem apresentações de danças e cantos tradicionais, rituais sagrados, oficinas de artesanato e participação em projetos de avicultura, horticultura e piscicultura, conduzidos pelos próprios moradores.
CULTURA VIVA E ECONOMIA SUSTENTÁVEL
O etnoturismo na Wazare vai além do entretenimento. Ele é uma estratégia de fortalecimento da identidade e de geração de renda para a comunidade, que hoje conta com infraestrutura básica para acolher visitantes com conforto e segurança — tudo com base nas tradições locais. “Não somos atração. Somos anfitriões da nossa própria história”, reforça Rony.
A preservação da língua materna, dos saberes ancestrais e da conexão com a natureza são elementos centrais da experiência. Ao visitar a Wazare, o turista não apenas conhece outra cultura — ele entra em contato com um modo de vida que equilibra espiritualidade, trabalho coletivo e respeito ao meio ambiente.
AGENDAMENTO E LOCALIZAÇÃO
A visitação à Aldeia Wazare é feita mediante agendamento prévio, conforme as diretrizes estabelecidas pela própria comunidade e pela Funai. O objetivo é garantir que cada experiência respeite o tempo, o espaço e os rituais do povo Haliti-Paresí.
Situada a cerca de 70 km da cidade de Campo Novo do Parecis, a aldeia tem acesso facilitado por estrada e recebe turistas brasileiros e estrangeiros interessados em vivências transformadoras. A aldeia integra um circuito que inclui outras comunidades da região, como Utiariti e Salto da Mulher, formando uma das rotas mais importantes do etnoturismo no Brasil.
UM EXEMPLO NACIONAL
O impacto da Wazare já ultrapassa as fronteiras de Mato Grosso. A aldeia é hoje modelo para outras comunidades indígenas que desejam aliar tradição e empreendedorismo com autonomia. Em tempos de valorização das culturas originárias, a experiência Wazare mostra que é possível — e necessário — olhar para o futuro sem abrir mão das raízes.
Mín. 19° Máx. 34°