Lobista preso estuda colaboração com a PGR

 O lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, transferido de Mato Grosso para um presídio federal em Brasília em março deste ano, está avaliando a possibilidade de firmar um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Ligado a intermediações de decisões judiciais vendidas em gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele é peça central em investigações que apuram supostas transações ilícitas de votos e sentenças.

Preso preventivamente em novembro de 2024, por ordem do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), Andreson não tem previsão de liberação. As apurações também envolvem desembargadores dos Tribunais de Justiça de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Fontes próximas às investigações confirmaram que a possibilidade de um acordo de delação passou a ser considerada apenas nas últimas duas semanas. A PGR, ao ser procurada, afirmou que não comenta "supostos acordos de colaboração" devido à natureza sigilosa desses procedimentos. A defesa do lobista, representada pelo advogado Huendel Rolim, também declarou que suas manifestações ocorrem apenas nos autos, que tramitam sob sigilo.

O caso ganhou força após o assassinato de um advogado em dezembro de 2023, em Mato Grosso, que culminou no afastamento de dois desembargadores do Tribunal de Justiça do estado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na ocasião, mensagens encontradas no celular de outro advogado mencionavam Andreson como participante na venda de decisões no STJ e nos tribunais estaduais.

Segundo a decisão de prisão de Zanin, a Polícia Federal identificou indícios de que Andreson integrava uma rede de contatos com juízes, assessores de ministros e servidores, atuando na negociação de decisões judiciais e no fornecimento de informações privilegiadas.

Desde sua detenção, a defesa de Andreson tem relatado dificuldades quanto às condições de sua custódia. Em fevereiro, o Supremo rejeitou um recurso que pedia sua transferência para outra penitenciária, alegando isolamento e ausência de alimentação adequada para seu quadro de saúde, que inclui obesidade e diabetes.

A PGR se opôs à transferência na época, alegando que a atual unidade prisional seria mais segura, já que a própria defesa admitiu o risco de extorsões por organizações criminosas.

Paralelamente às investigações sobre a venda de decisões judiciais, Andreson também é alvo de um inquérito da Polícia Federal por suposta lavagem de dinheiro. Entre 2014 e 2015, seu patrimônio teria crescido 3.052%, o que chamou a atenção dos investigadores.

Atualmente, os inquéritos que tramitam no STF apuram a conduta de gabinetes ligados a pelo menos quatro ministros do STJ: Og Fernandes, Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro. Os magistrados, no entanto, não são investigados diretamente — apenas assessores e servidores.

A operação que investiga os fatos, batizada de Sisamnes, apura crimes de organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional. De acordo com a PF, o esquema envolvia a cobrança de valores para beneficiar partes em processos judiciais e repassar informações confidenciais sobre operações policiais e decisões futuras.