Uma fuga digna de roteiro de filme, mas que escancara a grave crise dentro do sistema penitenciário de Mato Grosso. Em julho de 2023, dois membros da facção criminosa Comando Vermelho escaparam do Centro de Ressocialização Industrial Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande, usando uma viatura oficial da Polícia Penal e com o apoio direto de servidores públicos.
As informações vieram à tona nesta segunda-feira (14), durante a coletiva da Polícia Civil que anunciou a deflagração da Operação Shadow — força-tarefa criada para desmantelar o esquema de corrupção que permitiu a fuga.
O plano de fuga não envolveu arrombamentos nem violência. Pelo contrário: foi articulado com requintes de formalidade. Os dois detentos — Gilmar Reis da Silva, o “Vovozona”, e Thiago Augusto Falcão de Oliveira, condenado por homicídio — saíram pela porta da frente, escoltados por um policial penal em uma viatura oficial, sob a falsa justificativa de serviço externo.
A autorização da saída partiu do próprio então diretor da unidade, Adão Elias Júnior, que, segundo a investigação, recebeu dinheiro da facção para facilitar o esquema. Ambos os servidores — diretor e escolta — foram presos nesta segunda. A ação confirma o que muitos já temiam: o crime organizado não apenas influencia, mas opera ativamente dentro do sistema.
Após a fuga, os criminosos seguiram para a zona rural de Poconé, onde abandonaram as roupas do presídio. Desde então, estão foragidos. O delegado Gustavo Belão, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), aponta que a operação expôs “uma engrenagem bem estruturada” dentro do sistema prisional, com participação ativa de servidores ligados ao Comando Vermelho.
“É uma organização criminosa que opera com estrutura, planejamento e apoio interno”, resumiu Belão.
A Operação Shadow é considerada uma das maiores ações contra a infiltração do crime no sistema penitenciário de Mato Grosso. Coordenada pela Delegacia de Repressão a Crimes Organizados (Draco), a operação cumpre 35 ordens judiciais, incluindo:
11 mandados de prisão preventiva
12 mandados de busca e apreensão
6 bloqueios de contas bancárias
3 sequestros de veículos
3 sequestros de imóveis
As ações ocorrem em Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Poconé, com ordens expedidas pela juíza Edna Ederli Coutinho, do Núcleo de Inquéritos Policiais.
O caso revela uma faceta preocupante: a vulnerabilidade do sistema prisional frente à corrupção interna. A facilidade com que líderes criminosos manipulam servidores demonstra que a falha não é só de segurança, mas de integridade institucional.
A investigação segue para identificar outros envolvidos no esquema. Enquanto isso, os criminosos permanecem foragidos — não apenas da Justiça, mas amparados por uma rede que vai além das grades.
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