A Prefeitura de Cuiabá esclareceu que a paciente de 41 anos, que morreu com suspeita de dengue após passar pela Unidade Básica de Saúde (UBS) do Tijucal, não faleceu na unidade. Segundo o município, a mulher foi atendida no local e transferida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ao Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), onde permaneceu internada na UTI por quase 24 horas antes de morrer.
Em nota, a gestão municipal afirmou que, no dia do atendimento, três médicos estavam de plantão na UBS e atenderam um total de 45 pacientes, uma média de 15 por profissional – dentro da normalidade para unidades de atenção básica com horário estendido. Para efeito de comparação, segundo a prefeitura, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com quatro médicos realizou mais de 600 atendimentos no mesmo dia.
O município reforçou seu compromisso com a transparência e a qualidade dos serviços prestados e anunciou a abertura de uma investigação para esclarecer os fatos.
Apesar da justificativa da prefeitura, profissionais que participaram do atendimento afirmam que a UBS não possuía equipamentos e insumos necessários para emergências, como a que a paciente enfrentava.
De acordo com o prontuário, a mulher foi inicialmente atendida em uma UPA no dia 23 de janeiro e liberada. No dia seguinte, familiares a levaram à UBS do Tijucal, onde passou mal enquanto aguardava atendimento. O médico de plantão iniciou os procedimentos, mas o carrinho de parada – essencial para atendimentos de urgência – não estava equipado corretamente. O SAMU foi acionado e transferiu a paciente ao HMC, onde ela faleceu.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), Diogo Sampaio, a tragédia era previsível. “As UBSs não possuem estrutura para casos assim. A Prefeitura tem incentivado a população a procurar essas unidades, mas elas não estão preparadas para atender urgências. O resultado foi a morte dessa paciente”, afirmou.
O CRM-MT realizou uma fiscalização na UBS do Tijucal e constatou diversos problemas. Durante a vistoria, pacientes foram encontrados recebendo soro e medicamentos intravenosos sentados na recepção, pois não havia outro local adequado para o procedimento. Além disso, pelo menos cinco casos de pacientes graves estavam sendo tratados na unidade, mesmo sem estrutura para atendê-los.
Sampaio também denunciou que a prefeitura tem utilizado vans para transportar pacientes das UPAs para as UBSs, sobrecarregando as unidades básicas. “Isso distorce completamente o conceito de demanda espontânea, transformando as UBSs em unidades de urgência sem estrutura para tal”, criticou.
Além da precariedade dos atendimentos, médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem relataram um aumento nos casos de agressões verbais e assédio dentro da UBS. Um dos consultórios teve a maçaneta da porta arrancada após um paciente quebrá-la em um momento de fúria.
“A situação é caótica e essa ‘solução mágica’ da prefeitura está gerando sérios problemas. Não podemos esperar outra morte para tomarmos providências. A sindicância vai apurar as responsabilidades nesse episódio”, concluiu o presidente do CRM-MT.
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