A jornalista e escritora Larissa Campos, autora do site Malabarista, traz em suas crônicas e contos uma poesia viva do cotidiano, transformando pequenos episódios em grandes histórias. Recentemente, Larissa compartilhou uma experiência carregada de memórias e reflexões, a partir de um problema mecânico que a deixou alguns dias sem carro.
Enquanto esperava o conserto, Larissa observou os veículos na oficina e se deparou com uma placa antiga de Rio Branco, no Acre. Curiosa, começou a imaginar a história daquele carro: quem seria o dono? Como ele teria chegado a Cuiabá, distante quase 2 mil quilômetros da capital acreana? Foi nesse momento que ela se lembrou de um hábito de infância, quando ela e sua irmã criavam narrativas completas a partir das placas dos veículos.
“Nos divertíamos observando as cidades de origem e inventando histórias sobre as pessoas que os dirigiam. Em poucos minutos, tínhamos personagens, enredos, espaços e tempos definidos. Apenas as narradoras nunca mudavam”, recorda Larissa.
Essa prática lúdica e imaginativa foi interrompida com a adoção das placas do modelo Mercosul em 2018, que eliminou a identificação de cidade e estado, deixando apenas o nome do país. Para Larissa, esse detalhe aparentemente simples tinha grande impacto: “As ruas ficaram mais chatas depois do modelo Mercosul. Quando vejo uma placa antiga, sinto uma fagulha para a criação. É como se ela trouxesse um pedaço da história que agora está desaparecendo.”
Ao descobrir que um projeto de lei tramita para trazer de volta as informações de cidade e estado nas placas, Larissa se animou. Mesmo sem se aprofundar nos argumentos técnicos, ela acredita que o retorno desse formato seria uma forma de resgatar memórias e estimular a imaginação, especialmente para as novas gerações.
Larissa conta ainda que, certa vez, durante sua infância, viu um carro com placa de Manaus, sua cidade natal, estacionado em frente a um restaurante em Cuiabá. Ela e sua irmã não resistiram e foram conversar com os ocupantes do veículo, que de fato eram de Manaus e haviam acabado de chegar ao estado. "A placa motivou uma conversa que nos levou a um passeio pela memória, reavivando uma saudade imensa de nossas raízes no Amazonas", relembra com carinho.
Essa conexão com as placas não é apenas uma nostalgia infantil. Para Larissa, cada uma delas carrega potencial para histórias e laços humanos. Agora, ela acompanha atentamente a tramitação do projeto de lei e sonha com o dia em que as ruas voltem a ser repletas de possibilidades narrativas.
Para ler mais histórias de Larissa Campos sobre o cotidiano, literatura e memória, acesse https://malabaristadepalavras.substack.com/
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